sexta-feira, 20 de maio de 2011

A COMÉDIA DOS DEUSES''

É uma comédia simples e absurda; que levou quatro anos para ser lançada nos Estados Unidos, mas quando foi, marcou um recorde de bilheteria apresentando um roteiro um tanto sui generis. Indubitavelmente é uma boa comédia, que foi produzida com um baixo orçamento, assim como tantas outras. O seu diferencial está no absurdo de nos fazer rir de nós mesmos; não por palhaçadas impossíveis, mas exatamente por mostras situações inéditas.
Não sei se a metáfora de Jamie Uys surpreendeu ou atingiu os objetivos, a questão é que o filme foi aclamado, repudiado (tendo sido banido de Trinidad e Tobago por ser considerado racista) e virar objeto para vários estudos sociais e antropológicos.Como uma simples comédia africana, que tem como protagonista um autêntico bosquímano (que nunca tinha tido contato com a civilização moderna e nunca tinha praticado nenhum tipo de representação, nem na sua cultura), um orçamento baixo e pouquíssima divulgação pode criar tamanha repercussão? O motivo foi a sagacidade de Uys ao mostrar o ‘desenvolvimento’ e a tentativa do homem que, em vez de simplificar a sua vida, só a torna mais complexa, obrigando-o a reinventar-se. E, no lugar de mostrar o drama do nosso dia a dia, faz comédia através dos olhos ingênuos de quem conhece realmente a simplicidade.O filme começa no deserto do Kalahari, no Botswana, junto à África do Sul, numa pacata e semidesértica paisagem, coberta por uma vegetação arbórea esparsa, mostrando uma cena da vida quotidiana de um grupo de bosquímanos; um povo que vive (ou vivia na época do filme) alheio ao estilo de vida do homem moderno. Tudo calmo e tranqüilo até Xixo achar uma garrafa de Coca-Cola (das antigas e tradicionais de vidro). Curiosos sobre o item e incapazes de compreender o seu surgimento, o povo que nunca tinha visto semelhante material, consideraram que o mesmo foi enviado pelos Deuses.
Como no ditado de ‘na terra de cego quem tem um olho é rei’, o mesmo ocorreu entre os bosquímanos que, por não terem nada, desconheciam o sentimento de inveja e posse. Um sentimento trazido junto com o presente dos Deus que todos queriam ter, disseminando assim a discórdia entre o grupo. De uma maneira lógica e simples Xixo decreta que o presente dos Deuses foi na verdade um descuido e que na verdade é uma ‘coisa má’ que deve ser devolvida (pois os Deuses não enviariam uma coisa para trazer infelicidade). Começa assim a saga do ingênuo bosquímano que procura o fim do mundo para devolver a ‘coisa má’.No decorrer do filme vamos acompanhando as cenas bobas da comédia e nos encantando pela figura pitoresca de Xixo, com sua linguagem cheia de ‘cliques’, suas interpretações simples, sua ingenuidade e seu eterno sorriso. Uma revolução e Xixo sorrindo e o que era para ser uma simples comédia, acaba se tornando um laboratório em tempo real de como olhamos o mundo do nosso ponto de vista, exatamente como bosquímano. Partimos dos nossos conhecimentos e preceitos para atribuir aos fatos seus significados de acordo com o que nós achamos apropriado, mesmo que a nossa interpretação esteja, de fato, completamente equivocada (como o significado do valor do dinheiro). Rimos de nós mesmos sem percebermos a quantidade de símbolos que o filme possui. O absurdo de querer ir ao fim do mundo devolver a ‘coisa má’ não é lógico, mas quando entendemos a quantidade de coisas que surgem em nossa vida, transformando-a e nos levando a desejar seu desaparecimento ou nossa incompreensão diante de sua existência, compreendemos que a garrafa do filme é uma analogia, um símbolo a tudo que é novo em nosso caminho que desestabiliza a nossa harmonia ou que nos obriga a nos adaptarmos. Numa forma expressa, clara e tênue, Uys mostra muito do que somos. Tanto quando percebemos os fatos pela nossa ótica, como a dificuldade de absorver a diversidade cultural, como problemas constantes e presentes em cada cultura.



ALUNAS:Andrezza Marques ,Karolyne Rodrigues,Vanessa Monteiro

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