sexta-feira, 20 de maio de 2011

Os bosquímanos

Em sua espinha dorsal, o filme deflagra a experiência do homem urbano em contato com um outro nativo, estrelado no filme por um bosquímano do Kalahari, de nome Xixo. Primitivo sob um olhar ocidental, com um viés Rousseauniano em sua concepção, vive em pleno estado de natureza na selva Africana, livre do “pecado” civilizatório e das “degenerações” sociais que a vida moderna nos traz. Como centelha de transformação de seu ethos, bem como dos integrantes de sua tribo, entra em cena um dos maiores símbolos capitalistas presentes em nosso mundo ocidental. Materializado em uma garrafa de Coca-Cola, caída de um avião que sobrevoava o território Kalahariano, que atingindo em cheio a cabeça de uma criança nativa, consegue abalar as consciências de todos da tribo, revirando seu modus operandi social e sua maneira de enxergar seus códigos morais individuais em função do grupo. A partir daquele instante, em que o misterioso artefato é encarado como um presente dos Deuses pelos nativos, o conflito entre os seus pares se inicia, já que o frasco não pode ser divido por todos. Começam então a experimentar sentimentos que até então desconheciam em seus códigos comportamentais como a raiva, a inveja e até mesmo a violência. Eis a pedra de toque do filme: o ideal da propriedade privada transplantada para uma tribo estranha a este direito individual ocidentalizado, conduzindo o espectador a refletir sobre as transformações sócio-culturais ocorridas numa sociedade que privilegia o coletivo em detrimento do indivíduo. Como solução para este dilema social enfrentado pela tribo, Xi chega a conclusão de que tal artefato apenas produziu tristeza e sentimentos incompatíveis com seu modo de viver e de seus pares. Na sua tentativa de resgatar os valores da tribo que haviam sido perdidos em contato com o frasco maligno, decide livrar-se do objeto, aventurando-se pelo mundo rumo ao fim do próprio.
Em sua jornada, entra em contato com o homem ocidental. Produto deste choque cultural, todo um apanhado de códigos sociais presentes em nossa sociedade que inexistem no mundo de Xi e vice-versa. Interessante observar como a idéia de propriedade privada vêm a tona novamente no filme, na seqüência onde o selvagem resolve saciar sua fome matando um animal que julga ser d@e todos e de ninguém ao mesmo tempo. As consequências deste ato e seus desdobramentos são mostrados de uma maneira linear, semelhante a um rito processual, desde sua fase inquisitória com a prisão de Xi até sua fase acusatória, quando é julgado e declarado culpado no tribunal, culminando com sua prisão. Na visão ocidental, uma transgressão a lei punida com cerceamento de sua liberdade. Na do protagonista, um festival de ritos e códigos morais estranhos ao seu arcabouço social e cultural. Normas sociais tão herméticas ao seu modo livre de vida quanto às paredes que o mantinha preso, mas que graças ao sensível roteirista do filme, ganha novamente sua liberdade, permitindo concluir sua jornada até o “fim do mundo”, lançando ao infinito dos Deuses o objeto fruto de toda a picardia antropológica. O resto é Coca-Cola.

Alunas: Luana e Débora 8°ano"B"

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